segunda-feira, 9 de março de 2015

- Imponderável




  O Imponderável sempre bate à porta. Por educação, pois é sabido que tal fantasma não se prende por muralhas que tentamos forjar nessa ânsia por controle de nossas vidas. Bate à porta, entra, se aloja; numa espécie de paz que, de tão pacífica, nos tira dos eixos e dá de presente dores e frios na barriga.
    O Imponderável, por mais paradoxal que seja, é tão previsível... Não é segredo que o acaso - para os céticos - ou destino - para os utópicos - vem sempre como uma forma de nos provar que não podemos controlar essa mistura de passar do tempo, tomada de experiências e deterioração do corpo que é chamada de vida. Assim, de certa forma, sempre esperamos a surpresa.
    O Imponderável é a surpresa. A surpresa que se aguarda, hóspede ilustre: Se lustram os móveis, se perfumam os cômodos, se regam as flores - o corpo como morada em espera. Hóspede que mora ao lado, mas vem de malas e cuias: malas com seus sorrisos, cuias com suas derrotas, e apenas uma das partes é deixada em sua visita.

O imponderável me bateu à porta. Vendaval de brisa suave, enchente de águas mansas - veio paradoxal aos meus domínios, se apossou do cômodo principal. Deixou as malas, levou as cuias e foi-se embora assim como chegou, com sua paz de dar calafrios.
Agora rego as flores, lustro os móveis e espero: que venha novamente o ilustríssimo Imponderável.

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