terça-feira, 11 de novembro de 2014

- resgate

Me tire de mim
Me tire da teia
de solavancos e barrancos
Me tire o nó
da garganta, da voz, do sopro
nó das pernas, nó das penas
Cárcere privado em corpo semi aberto
Me tire do fogo
fogo de enxofre, fogo etílico, fogo ruivo
Me tire o sal
de água, dos olhos, hipertonica
Me tire de mim
Socorra o que resta 
risos velhos, restos de festa
Me dê uma fresta 
ar de renovo, um pouco de gosto
Me permita visão 
ao fim cegueira branca, cela branda 
Me tire de mim 
Me mostre o caminho
entrada franca ao acaso, destino
Me tire o castigo
de perseverar
de ser o que deve ser 
de dever ser o que se é
Me tire de mim
De mim!














domingo, 5 de outubro de 2014

- vai, tempo

vai, menina
vai brincar de ser adulta
                de sonhar com vestidos de festa
                de desenhar castelos na areia
                de pensar em alma gêmea
                                     cachorro, gato e dois filhos

vai, garota
vai pensar numa vida única a viver
                na imagem que quer formar
                nas pessoas a agradar
                nos desejos a esconder
                                   amor, carne e sua impossível união                                             

vai, mulher
vai lidar com a realidade
                   o sonho recente frustrado
                   o prazo de entrega apertado
                   o pra sempre atrasado
                                        sexo, alento, salário

vai, senhora
vai descansar teu corpo frágil de lutar
                     teu coração mole de perdão
                     tua insistência em continuação
                     tua mente cansada em esperar
                                                       pela ligação, pelo carinho, pela mão.

quarta-feira, 3 de setembro de 2014

s.o.s

Parem o mundo! Parem as máquinas!
Parem o microfone e a verdade deflagrada!
Parem a seca e a indústria da desgraça!
Parem o breque do livre na catraca!
Parem o trem nesse trilho de ganância!
Parem o motor a caminho da vingança!
Eu quero descer!
Eu quero sair!
Eu quero um pingo, resquício de esperança!
Eu quero uma gota, fragmento de mudança!
Onde estão, oito anos, aurora da minha vida?!
Onde estão, sabiás, palmeiras da minha terra?!
Onde está, alcalóide, Pasárgada querida?!
Eu quero um raio, potência pra alma!
Eu quero sopro, vestígio de calma!
Eu quero sair!
Eu quero descer!
Parem os homens na glória do falo!
Parem a defesa do legítimo disparo!
Parem as ruas acamando os pobres!
Parem os narizes dos tantos esnobes!
Parem a mim em estertor de agonia!
Parem os tantos em inércia e apatia!
Eu quero descer! Eu quero sair!
Parem as máquinas! Parem o mundo!

quinta-feira, 31 de julho de 2014

- apenas areia

Como em um piscar, não quis mais ouvir a canção que entoava felicidade.
Retornou àquele poema de Drummond que dizia sobre flores amarelas e medrosas. Sentia-se como uma.
Não mais via graça nas desculpas por ela usadas. Via nelas apenas uma criança amedrontada pelo vislumbre de ser adulta. Cansou-se de se justificar com cansaço, trabalho, estudo, falta de tempo... “quem dita o tempo, afinal?’’, perguntava-se.
Fazia ela mesma seu tempo. Tempo para pensar em amor, tempo para pensar na falta dele. Tempo para estudar, tempo para justificar aos outros a falta dele. Tempo para si, tempo para pensar na falta de si mesma em si. No final das contas, era inteira pensamentos e sabia que não se pode construir casas sobre dunas. Não se pode ser só em mundo metafísico.
Percebeu que pensamento era areia e cansou-se de deserto. Resolveu achar em oásis suas respostas... não mais pensou em quebras-cabeça sociais, labirintos políticos, agonias religiosas. Transportou-se ao mundo físico de caminhadas sob árvores de folhas secas a cair, paixões esporádicas, cafés quentes e sanduíches nas madrugadas. E se viu feliz ao entoar novamente aquela canção que dizia de felicidade.

Certo dia, porém, a lua talvez tenha brilhado de jeito diferente, as marés não tenham andado de acordo com as estrelas, ou até mesmo seu horóscopo possa ter ditado palavras de mudança nos ares... ou talvez tenha sido mesmo aquele seu eu esmagado que resolvera se espreguiçar.
A verdade é que, como num estalar, desanimou-se das caminhadas sob as arvores de folhas secas: Não faziam sentido. Via em si vendas interiores que tampavam seus olhos críticos. Via em seu coração muita hipocrisia, discurso cabide de imagem favorável ao mundo de vitrines em forma de gente. Cansou-se dos oásis. Mas a peregrinação era cansativa, desgastante... O suplício por água era por raras vezes correspondido.
O que permanecia era a constante indagação “o que vale a pena?” e aqueles pra quês e porquês jamais respondidos.
Ainda não tinha respostas.
Tinha em seu bolso as palavras de Drummond sobre o peso do mundo e em sua mente a certeza de ter apenas duas mãos...
Apenas areia em suas mãos.

domingo, 6 de julho de 2014

- olhos metafísicos

Olhos não mentem.
Mentem os sorrisos repletos de dentes,
as pernas entrelaçadas,
as roupas ali jogadas;
mas não mentem os olhos.

Olhos não mentem.
Mentem os apertos de mão demorados,
os abraços de supostos enamorados
as palavras por beijo interrompidas;
mas os olhos não mentem.

O empírico pertence à pele, ao arrepio.
Ao metafísico o tocar não alcança,
não se pode vê-lo pelos olhos dos dedos.

Às janelas da alma cabe os segredos dos sorrisos incompletos,
as mãos dadas e os acenos distantes,
os beijos não dados e os abraços des-esperados.

Os olhos não mentem.
Mas presenteiam com verdade aqueles que a desejam
para, assim,
poderem mentir.

terça-feira, 20 de maio de 2014

Le Goff, feudos e as bolhas pós modernas



Disse Jacques Le Goff, em seu livro sobre a civilização ocidental medieval, que "aquilo que dominava a mentalidade e a sensilbilidade dos homens da Idade Média, aquilo que determinava o essencial das suas atitudes, era o seu sentimento de insegurança". 
Baseando-se nisso, pode-se explicar as construções de altos castelos murados, cidades fortificadas, feudos autossuficientes e ensimesmados, todos em sentimento unânime de medo a invasões de outros povos.
Sobre isso, pensei eu dentro de minhas limitações: somos, cidadãos do aclamado século vinte e um, um tanto medievais.
Vivemos em constante alerta; o medo e a insegurança nos move, nos faz murar casas, gradear as janelas, colocar alarmes escandalosos em nossos carros. Temos medo do assalto, da faca, da arma, das noites escuras em ruas vazias.

Porém, não para por aí. As inseguranças do pós moderno ultrapassam aquilo que tange a invasões de povos germânicos. Nós nos especializamos em murar nossas mentes, gradear as janelas de nossos corações. 
Nos tornamos autossuficientes em nossos feudos contemporâneos: as redes sociais que nos protegem do contato cara a cara, as panelinhas que nos afastam de quem é diferente, os discursos vazios e simplistas que excluem visões críticas e profundas sobre a realidade e possíveis mudanças de pensamento.
Gradeamos nossos sentimentos de humanidade com o arame do individualismo; viramos uma espécie de membrana plasmática ambulante que filtra e deixa entrar apenas aquilo que lhe é útil no momento. Como exemplos, temos: bancos nos ônibus reservados para idosos que são usados sem remorso por jovens que pensam apenas na vontade de suas pernas, motoristas de carros que utilizam da faixa de ônibus pensando apenas na sua vontade de trafegar mais rapidamente, empresários que não aplicam integralmente as leis trabalhistas afim de garantir um lucro ligeiramente maior, entre outros tantos exemplos.

Vivemos em estágio de bolha. Girando pelos ares, alheios ao redor, num mundo particular.
Pois eis a novidade: se vivemos em sociedade, vivemos em conjunto. Como damos as mãos se nós prendemos entre arames farpados?
Que as bolhas cumpram sua função: estourar. Que aprendamos com a história: não vivemos hoje em feudos físicos pelo grande e bom motivo deles não funcionarem. Por que então construir tantos feudos interiores?

terça-feira, 1 de abril de 2014

sobre 31 de março


Felicidade em ordem pra progresso

Preto no branco, sempre ser correto
Verde e amarelo, cor do meu Brazil
Vermelho sangue, dor do meu Brasil

Correm os homens 
Bola no pé 
Correm os homens
Bala na cabeça

Choram mulheres
Beleza é fé
Choram mulheres
Violência certeira 

Corpos
Mortos 
Amantes da pátria
Mortos
Corpos
Cultura do ódio

Dinheiro 
Poder 
Milagre econômico
Poder
Dinheiro
Sobreviver é milagre

Falácias 
Audácias 
Ame-o ou deixe-o!
Mentiras
Firulas
É brasil varonil!

Antes fosse só arquivo de memória
passado triste pesado de estória  
Antes fosse choro antepassado
como lição eterna fosse pranteado

O depois será aquilo que quiseram
com dor, canções, bandeiras queimadas
O depois será aquilo que quiseram
Com dor, canções, bandeiras queimadas?


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

porta da frente


Se bater em minha porta, 
Não entre como se já conhecesse a casa.
Entre como se visitasse pela primeira vez um museu,
como um amante de histórias antigas.
Observe cada parede,
E as rachaduras que as compõem.
Os quadros tortos ou bem posicionados
As esculturas em mármore maciço 
e os copos de plástico.
Não repare na bagunça,
Ou repare - e se sinta privilegiado:
Se esperasse visita tão bela,
Teria eu jogado os defeitos pra debaixo do tapete;
Como saberia de que caso é o sofá em que se senta?
Se te receber com um sorriso no rosto,
peça um café quente ao invés dum copo d'água.
Sente-se na cadeira mais próxima da janela
e me pergunte como foi o dia no trabalho.
Não se sinta em casa:
deixe a mim honra fazê-lo, de te dar as chaves extras;
Como se você já não tivesse morada em mim 
Mesmo antes de decidir por bater na porta da frente.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

- o muro é forte

A realidade me machuca demais.
Não vivo nela. Sou de lugar distante, lugar de família, pão nosso de cada dia e amor que não é distante, em que se toca.
A realidade é sonho ruim, no lugar em que vivo. Minha prisão de felicidade me tornou alheia ao mundo das coisas tangíveis. Por isso sofro.
Sofro por ver. Apenas ver, sem tocar. Não posso tocá-la, quissá mudá-la. Esse muro de necessidades satisfeitas, livros e cafés quentes não me deixa tocá-la.
Cresci um pouco, pude ver o outro lado. Gosto amargo na boca, cheiro desagradável, tão diferente de minha suavidade habitual... Subi uns degraus, desconfortavelmente, sentei em cima do muro. “Oh Deus, por que tanto desespero; não ouves os clamores agoniados agonizantes?”, pensei e repensei. Mas só pensei.
Não pude dizer uma sequer palavra, nem uma lágrima ousou rolar. Decidir entre a felicidade habitual ou a realidade factual é decidir entre duas prisões. E permaneci em cima do muro.
A realidade me machuca demais. Pois não vivo nela, mas posso vê-la em cada pé descalço. Ela é sonho ruim em meu mundo, esse meu lugar distante.
Ando sonhando muito.
Dizem que viver em cima do muro é fraqueza, “em cima do muro não é de bom tom”. Mas, aprisionar-se em mundo doce de cortinas fechadas ao caótico do outro lado é assim de tão bom tom?

Talvez eu seja realmente fraca. Mas o muro é forte.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Navegar

Engraçada a primeira vez em que se olha nos olhos. Naquela tarde ensolarada, vi nos teus um oceano disposto a me afogar.
Ah, Oceano... Tu querias que eu nadasse, nadasse e nadasse; mas nada se pode fazer se sou mulher de terra firme. Não poderia eu me afogar em teus beijos se já tremo na imensidão de teus olhos suplicantes. Não posso, não posso respirar.
Uma vez apenas vi teus olhos. Tu já eras inteiro meu quando me permiti almejar ser marinheira. Dizem por aí que navegar é preciso, mas não posso, na rocha eu me firmo... Ah, Homem de ondas, entendas que, em teu mundo, eu só sei ancorar.
Pegaste em minhas mãos e me chamaste para nadar... Querias que fosse sereia e imaginavas meu canto; querias-me por inteiro. Mas, saibas, marinheiro, que sou pedaços de nota, não canto tua melodia.
Engraçada a primeira vez em que te olhei nos olhos. Tu me inundaste sem que pudesse te alertar: sou mulher de terra firme, não posso navegar.

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

- Hoje, vivi.

Hoje acordei. 
Acordei e quis escrever poesia sobre amores que dão certo. Sobre flores e seus perfumes doces. Quis fazer aquela crônica alegre que enriqueceria o dia de quem lesse.
Tudo isso porque acordei.
Levantei de meu habitual desprezo por coisas que remetem a frios na barriga e esperas por mensagens no meio do dia. Fui à janela, senti a brisa quente desse calor que abraça e desejei mais abraços.
Hoje acordei.
Lavei o rosto e quis escrever sobre aqueles olhos penetrantes de uma terça-feira. E sobre como penetraram ao fundo de meu baú empoeirado de sentimentos resguardados por medo e sua mágica de abri-lo com estranha facilidade de chave-fechadura.
Acordei de um sonho ruim em que sonhar era proibido e vi uma realidade em que se pode viver um sonho bom de dedos entrelaçados em caminhadas pelo parque.
Coloquei o café na xícara e pensei que era livre, enfim, para aquele vestido magenta que marcava na cintura. 
Penteei o cabelo, ouvi aquele jazz dos anos 60 e sai pra viver.
Hoje eu acordei e pude ver vida.
Hoje, vivi. 

sábado, 11 de janeiro de 2014

- Constatação do fim.



Infindáveis noites essas sem o toque de tuas pernas;
Infindáveis questionamentos à Noite de coração de mulher                                                                                               [amargurada.

Quem sou eu sem teus braços a circundarem meu corpo?
Quem sou eu sob a falta de teus olhos infantis a me fitarem?
Quem sou se, o que era, fazia você de engrenagem;
se tirava de teu sorriso de marfim o combustível à sobrevivência?
Quem, se ao te conhecer, desconheci o viver individual,
e fiz do teu ar a razão de respirar o meu?

Sou pedaços de estrela que ao cair é beleza e desgraça,
que conhece em seu auge o início da derrota,
que tem em seu esplendor a certeza do fim.

Sou restos de um adeus mal dito;
Maldito dia em que as rosas murcharam,
os rios secaram,
e trouxeram o meu amor desidratado.

Quem sou eu ao espaçar-me na cama vazia?
Quem, se o que era foi-se com teu partir;
Ao teu partir de mim e de ti mesmo?

Infindáveis são os dias em que não mais se contam as horas,
Infindáveis momentos que já não ficam na memória;
Infindáveis sorrisos que não são nada além do que são,
assim como a aurora que chega e não te leva mais embora,
pois foi a Noite em seu ápice de sentir que levou-te para ser nada                                                                               [menos do que nada.


Escrito em um belo dia de inverno. Lua cheia. Agosto.
Ao som mental de “Vai”, Ana Carolina.

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Onde já se viu canarinho que não voa?



Casas de pau;
pau comendo solto.
Pés sem chinelo;
chinelos perdidos nas avenidas desesperadas.

Lágrimas de crocodilo
levam homens ao poder,
que nas cadeias de suas casas
levam homens a morrer.

Morrer de inanição,
morrer de munição;
Quantos não se foram em um piscar de olhos?
Quantos não se foram sem nem sonhos ilusórios?

Ilusão é pensar
que há futuro no agora
que não seja dependente
de um povo sem memória.

Memória de um passado negro e conturbado;
Memória de uma tribo de tradições desmoronadas;
Memórias de um povo secundário em sua história,
pois não sabe,
não vê,
não lê,
não é.

Não sabe da força do Zumbi quilombola;
não vê o sangue que jorra nas favelas;
não lê pois seu alfabeto é o trabalho sem demora,
não é o que é pois nem ao menos se conhece.

Conhece o berimbau, mas quer mesmo o de fora:
plantation,
play station;
ora pois, c’est fantastique!

O tic-tac dos tempos muda estações,
mas a dignidade do povo continua em gestação.

Um passo de cada vez
contra maré, contra mané;
Armado de martelo, enxada e união,
quem há de segurar o clamor dessa nação?

                                                 5 de setembro/13

- a perdição ao encontro

Em cada janela aberta, em cada olhar ao céu, em cada sentir do sol, encontro-me. Encontro-me ao cheirar flores, ao beber de alheios as dores, ao sonhar de olhos abertos a imensidão azul do horizonte.
Até te encontrar.
Cansei do encontrar-me. Queria me perder em teus braços. Queria, nas profundezas de teus olhos castanhos, entrar e viver para nunca regressar. Em teus lábios macios de beijar molhado, esconder-me como criança levada. Apenas queria perder-me. Perder-me ao teu encontro.
Ao sentir a essência das flores levada pelo vento que entra pela janela, encontro meu sossegar. Mas, não o quero. Quero o agoniar do não passar das horas quando espero por teu encontro ao fim da tarde... Quero o anseio que se transforma em arrepios ao imaginar teus braços a me segurarem, a me abraçarem como se um precipício estivesse diante de nossos pés.
Ao servir de consolo meus ombros a alheios, quero servir a ti; quero que tua alegria estampe em meu sorriso, que teu pesar esteja em minhas lágrimas... Quero tua cabeça em meu colo abrigar, afagar teus cabelos, fitar teus olhos infantis como se estes solucionassem todas as intempéries que há no viver.
Cansei do encontrar-me. Pois, afinal, que seria do amor se não o infinito perder-se no outro, e assim, encontrar o combustível a levantar em cada novo amanhecer?

Tu és meu infinito labirinto.

- E se soubesses?


Ah menino, se soubesses...

Se soubesses cada quadro que pinto com as esperanças em tinta da cor de teus beijos...
mesmo que só pensar em ti seja miragem no deserto, ilusão que não sacia minha sede.

Ah, se soubesses cada fala que transformo no som de tua voz,
talvez entenderias o porquê de tantos poemas que falam de coração
e a semelhança de teus olhos com os de meu Romeu de eternos contos sem fim.

Se ao menos soubesses de cada olhar meu retirante a pradarias de outro continente,
compreenderias que prefiro o calor dos trópicos ao frio que me remetes das altas latitudes
e o carnaval de sentimentos daquele infindável mês de junho.

Ah menino, se soubesses,
Deixarias de lado esse teu jeito discreto
e me dirias enfim o que faço pra ser tua?

- daqui não vejo os pesares

Daqui não vejo os pesares.

A luta do trabalho pesado, a luta por espaço, a luta pela vida.
Luta de camadas, luta de classes - ou talvez de salas com cadeiras vazias nas escolas... Daqui não vejo.

Vejo o luar, que ilumina a árvore seca.

Seria o mesmo de ver uma idéia a iluminar uma mente sem vida? Uma vida sem alma de luta? Ou, quem sabe, uma alma sem luta de vida?

O luar ilumina minhas idéias de alma a borbulhar, cheia de vontade de lutar; sangue corre em minhas veias e traz mais do que vida de corpo maciço de pele-ossos-estereótipos.

Daqui, não vejo os pesares daqueles que sofrem do corpo, daqueles que padecem na carne.
Daqui vejo-sinto-sou os pesares das almas sôfregas como árvores secas à procura do luar. À procura de vida.