sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Onde já se viu canarinho que não voa?



Casas de pau;
pau comendo solto.
Pés sem chinelo;
chinelos perdidos nas avenidas desesperadas.

Lágrimas de crocodilo
levam homens ao poder,
que nas cadeias de suas casas
levam homens a morrer.

Morrer de inanição,
morrer de munição;
Quantos não se foram em um piscar de olhos?
Quantos não se foram sem nem sonhos ilusórios?

Ilusão é pensar
que há futuro no agora
que não seja dependente
de um povo sem memória.

Memória de um passado negro e conturbado;
Memória de uma tribo de tradições desmoronadas;
Memórias de um povo secundário em sua história,
pois não sabe,
não vê,
não lê,
não é.

Não sabe da força do Zumbi quilombola;
não vê o sangue que jorra nas favelas;
não lê pois seu alfabeto é o trabalho sem demora,
não é o que é pois nem ao menos se conhece.

Conhece o berimbau, mas quer mesmo o de fora:
plantation,
play station;
ora pois, c’est fantastique!

O tic-tac dos tempos muda estações,
mas a dignidade do povo continua em gestação.

Um passo de cada vez
contra maré, contra mané;
Armado de martelo, enxada e união,
quem há de segurar o clamor dessa nação?

                                                 5 de setembro/13

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